Calçadas: problemas e soluções
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© Cecilia Santos - Arquivo pessoal - Proibida a reprodução |
Tenho prestado atenção ao paisagismo nas calçadas de São Paulo e levantado algumas questões sobre projetos, escolhas de espécies e como esses espaços afetam a vida de quem circula pelas calçadas.
As áreas ajardinadas nas calçadas têm valor não só estético, mas também ajudam a melhorar a saúde ambiental e desempenham um papel fundamental na drenagem da água da chuva, aliadas à arborização urbana.
A questão é como os canteiros nas calçadas são planejados (ou não) e implantados.
O Manual Técnico de Arborização Urbana de São Paulo explica que toda calçada deve ter uma largura mínima de 1,20m para a circulação de pedestres, e a área para plantio de árvores e canteiros deve ter pelo menos 70 cm. Ou seja, para o plantio de uma árvore, a calçada deve ter pelo menos 1,90m de largura.
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O manual ainda determina as espécies que podem ser plantadas nas calçadas de acordo com uma série de características do local. Acontece que muitas árvores já foram plantadas há décadas, quando essas recomendações ainda não existiam. E árvores de grande porte muito comuns na cidade, como tipuanas e fícus, têm raízes muito agressivas que danificam as calçadas e dificultam muito caminhar por elas.
Outras vezes as pessoas simplesmente plantam árvores e vegetações nas calçadas sem o menor critério. Daí é comum a gente ver cenas bizarras, como nesta calçada na frente de um condomínio na Vila Romana, onde há uma palmeira fênix, que têm espinhos enormes em suas folhas, bem na altura de uma pessoa. Ao lado dela há uma palmeira de grande porte que alcançou a fiação elétrica. Repare também que a área foi toda impermeabilizada.
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Por mais errada que seja a situação, é preciso saber que as árvores na calçada só podem ser removidas pela prefeitura, e somente em casos muito específicos. Quer dizer, se errar no plantio, vai ser bem difícil de resolver.
O importante é que é imprescindível manter uma área permeável no entorno das árvores, na forma de canteiro ou faixa, para permitir a infiltração de água e aeração do solo, sempre mantendo a largura mínima de 1,20m para a circulação de pedestres.
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Uma solução muito ruim é criar um “murinho” em torno do canteiro, para supostamente proteger a árvore. Acontece que essa barreira impede que a água da chuva penetre no solo, inviabilizando a função de drenagem dos canteiros. É comum inclusive que essas barreiras sejam construídas na linha do meio-fio, gerando o risco de danos a um veículo que estacionar muito rente.
Pior ainda é impermeabilizar toda ou praticamente toda a área em torno da árvore, o que pode levar à sua morte!
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Quando as raízes das árvores crescem acima da calçada, pode ser necessário aumentar a área permeável (sempre respeitando a faixa de 1,20 m para circulação de pedestres). Para otimizar o espaço, podem ser usadas grelhas, que ampliam tanto a área permeável no entorno da árvore como a faixa caminhável.
Mas existem outras soluções criativas, como nas fotos abaixo, e que permitiram acomodar as raízes superficiais das árvores sem prejudicar a acessibilidade.
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O que me choca é quando a decisão de impedir a acessibilidade nas calçadas foi planejada por um paisagista. Neste condomínio no bairro de Perdizes, foram plantadas moreias em toda a faixa junto ao meio-fio. E como o que está ruim sempre pode piorar, fizeram uma poda pela metade da altura, completamente errada, o que deixou o canteiro não só disfuncional, mas feio.
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© Cecilia Santos - Arquivo pessoal - Proibida a reprodução |
No condomínio construído recentemente em frente ao meu prédio, aconteceu a mesma coisa, mas neste caso plantaram dionelas, que agora já estão bastante volumosas. E há alguns dias a gente experimentou na prática o problema da vegetação que impede o acesso seguro à calçada:
Minha família veio almoçar aqui, e meu irmão estacionou justamente na frente desse condomínio. Na hora de sair, para acomodar minhas 2 sobrinhas de 9 meses e 3 anos nas cadeirinhas, foi preciso afastar o carro da calçada para abrir as portas do lado do passageiro, atrapalhando o trânsito e gerando risco para todos. Seria ainda mais difícil se fosse apenas um adulto tentando embarcar 2 crianças. Ou no caso de uma pessoa idosa ou PcD.
Quem projeta esses canteiros na calçada só pensa na questão estética? Por que então não plantar grama nesses locais, ou outra espécie que possa ser pisoteada e que não crie uma dificuldade para acessar a calçada?
É nossa função de paisagistas pensar em primeiro lugar como o paisagismo afeta o ser humano, sua acessibilidade e segurança. Essa onda de criar barreiras vegetais na borda das calçadas precisa ser repensada urgentemente.
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