CASACOR 2024

© Cecilia Santos - Arquivo pessoal - Proibida a reprodução

Nós paisagistas enfrentamos um dilema: queremos entregar inovação e diversidade em nossos projetos, mas nos deparamos com algumas barreiras: desde a dificuldade de encontrar fornecedores que tenham espécies menos óbvias, até o medo de sair da zona de conforto e utilizar plantas com as quais temos pouca ou nenhuma experiência prévia.

Com isso, os jardins parecem todos tediosamente parecidos e alternam talvez entre menos de duas dezenas de espécies diferentes entre aquelas produzidas pelos viveiros, a maioria das quais são exóticas.

Esse cenário deveria ser diferente na Casacor 2024 mas não é. Marantas-charuto, colocásias, jasmins-manga e guaimbês estão presentes em quase todos os projetos. A paisagem tropical domina todos os ambientes onde há vegetação, sem gerar impacto ou surpresa. Em vários deles, as plantas parecem estar ali apenas como meros objetos de decoração e não como elementos capazes de realmente gerar sensação de bem estar às pessoas.

Com o tema “De presente, o agora”, a mostra propõe um diálogo entre passado, presente e futuro. Segundo os curadores Livia Pedreira, Pedro Ariel Santana e Cris Ferraz, “nossas decisões cotidianas impactam nas futuras gerações, afinal, sempre seremos ancestrais de alguém”.

Há muitos elementos de brasilidade e resgate de memórias em objetos e ambientes. O conceito de biofilia está presente em revestimentos de madeira e pedra, e em vários ambientes os pisos despertam memórias afetivas, como ladrilhos hidráulicos e tijolos, ou aconchego, como no ambiente batizado de Simplicidade Atenta, da paisagista Elaine Kalil, que utiliza um piso de seixos polidos.

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Destaco o Quarto Njinga da arquiteta Kesley Santiago, inspirado em elementos do povo mbundu de Angola, e a Praça Tekohá, da Zanardo Paisagismo, que apresenta bancos esculpidos pelo artesão Kulikyrda Mehinaku da aldeia kaupüna no Xingu.

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A Ocupação Terreiro, instalação do artista Ale Salles, retrata a ancestralidade por meio de referências aos orixás e ao terreiro como local de encontro e ritual, destacando a importância da preservação da história, cultura e memória afrobrasileiras. 

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O ambiente Casa Veredas Simonetto, idealizado pelo arquiteto Gabriel Fernandes, com referências à vida rural, é revestido por cerca de 1.500 blocos de barro que foram modelados por mulheres atendidas pelo Instituto Maria do Barro em Brasília.

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O Jardim dos Quatro Elementos de Thiago Borges, com cascatas de água e lareiras, apresenta uma impressionante estrutura de bambu que se assemelha a ombrelones vazados mas que também lembra a copa de árvores.

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Luciana Bacheschi e Gabi Pileggi criaram o Pátio Brasileiro, uma releitura moderna dos pátios coloniais brasileiros, utilizando uma fonte, pisos e cerâmicas artesanais que se harmonizam com esculturas e vasos de barro desgastados em meio à vegetação nativa.

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Pela primeira vez um dos ambientes estará localizado fora do Conjunto Nacional, no Jardim Colombo, na periferia de São Paulo, onde a arquiteta Ster Carro propõe a reforma da Casa do Wallace em um espaço de pouco mais de 10 m2. Participando da Casacor pelo segundo ano consecutivo, Ster conduz projetos sociais e de qualificação profissional na comunidade onde nasceu.

Em alguns dos projetos de paisagismo da Casacor 2024 talvez falte um pouco de ousadia em recorrer a uma maior diversidade de espécies e biomas, assim como resgatar plantas utilizadas em outras épocas, já que o tema da mostra busca resgatar memórias e tradições.

Afinal, mais do que apenas reproduzir o paisagismo comercial, seria bacana vermos nas próximas edições da Casacor projetos mais conceituais e experimentais, que desafiem e inspirem na busca de soluções sustentáveis e diversas.








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